quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Jesus não queria pessoas boas...

Hoje pela manhã eu estava em um banco esperando minha vez para ser atendido; enquanto isso, lia um livro e refletia muito sobre algumas questões da vida que eram implicações do assunto tratado no livro.  Pensando então no último texto que eu havia escrito, e que falava sobre oração, continuei refletindo no assunto e chegando a algumas conclusões. Portanto, quero compartilhá-las com vocês.

Quais requisitos nós usamos pra declarar que alguém é uma boa pessoa? Normalmente pensamos em coisas como “não roubar, não matar, não mentir, não trair, ajudar o próximo” e coisas do tipo. Usamos esse mesmo princípio na educação dos nossos filhos, na escolha de alguém pra casar, em nossas amizades e por aí vai. Somos “bons” pra fazer listas para que as pessoas cumpram certas exigências, sendo adequadas aos requisitos e então estejam aprovadas em nossa seleção para poder dizer: é um bom filho, uma boa esposa, um bom amigo. Afinal, queremos pessoas boas para nós!

O apóstolo Paulo queria que as pessoas tivessem boas condutas e realizassem boas obras, sem dúvida. Mas Paulo não fez uma lista de exigências para que a Igreja cumprisse. Podemos pensar que talvez fosse mais fácil se existisse essa lista. Mas o que Paulo sabia era que a transformação no comportamento e na vida das pessoas deveria ser fruto da graça maravilhosa de Deus e não resultado de esforços humanos como quem levanta um troféu de conquista. Pois essas mudanças refletem mais que apenas comportamentos.

Muitas vezes (pra não dizer quase sempre) somos tendenciosos a focar exclusivamente no comportamento. Percebemos isso quando fazemos listas do que deve ou não deve fazer, quando nos esforçamos apenas para que nossos filhos não falem palavrão ou quando queremos que um amigo seja mais gentil com alguém; e então desejamos uma “mudança de comportamento”. 

Algumas vezes dizemos: “tudo que quero é que ele se comporte de tal forma”. Precisamos entender que essa mudança de comportamento pode até acontecer, mas se não for recheada do evangelho da graça de Deus podemos estar apenas treinando pessoas para serem hipócritas ou orgulhosas. Além disso, podemos estar lançando fardos nas pessoas, como se tudo isso fosse tão pesado ou talvez até impossível de se cumprir. (Logicamente existem mudanças que não implicam um caráter moral ou graça do evangelho, como a escolha entre a cor verde e azul, skate ou guitarra, torcer pra um time ou pra outro. Entendam que não estou falando disso).

É por isso que Paulo não fez listas do que pode e do que não pode. E quando ele fala sobre comportamento de um cristão é por que ele já falou da maravilhosa graça de Jesus Cristo – o verdadeiro motivo para a nossa mudança de comportamento. Percebemos que Paulo ao escrever suas cartas ora e encoraja os cristãos a andarem dignos da vocação que foram chamados, deseja que eles sejam cheios de conhecimento de Cristo, cresçam em sabedoria, entendimento, e em amor. E sim, todas essas coisas que ele ensina são capazes de mudar o comportamento das pessoas, pois tratam da graça de Cristo. Paulo não queria pessoas boas, mas cristãos piedosos, tementes a Deus, pois as mudanças no comportamento seriam resultados disso, da graça de Deus e não do esforço humano. Isso nos ajuda até levar em conta o tempo de conversão e desenvolvimento da pessoa para alcançar a maturidade.

Às vezes queremos formar líderes e focamos apenas nas “10 características que um verdadeiro líder deve ter”, isso é apenas um legalismo forjado por uma boa vontade e para um bom propósito se não vier precedido pelo evangelho. Temos que ensinar as pessoas a amarem a Cristo. Mas como? Ensinando-lhes sobre o evangelho, mas antes de tudo, vivendo o evangelho. 

Qualquer ateu pode ter bons comportamentos e agir de maneira heroica. Não devemos os desmerecer por isso. Mas pergunte por qual motivo eles se comportam assim? Provavelmente (ironia aqui) você não vai encontrar uma resposta do tipo: “Porque a graça de Deus me alcançou e o evangelho de Cristo me ensina a ser assim e amar as pessoas”. Vamos encontrar filhos de não crentes que são mais obedientes e educados do que filhos de crentes (logicamente há uma falha enorme na educação destes últimos que é responsabilidade dos pais e que daria um importante texto), mas o quanto da graça e do evangelho tem sido ensinado na educação dos nossos filhos? Ou queremos apenas filho comportados e ponto final? Quando na verdade devemos desejar filhos com o coração transformados que se comportem de maneira a responder de forma digna da vocação e gratos a Deus? (então vivam e ensinem isso aos seus filhos!).

Não é errado ter uma sociedade moralmente correta (apenas é impossível, mas tudo bem rs). Logicamente não é errado, mas para aqueles que desejam viver para glória de Deus, é completamente sem lógica e sem razão deixar o evangelho da graça fora da história, focar numa questão de comportamento (do que é certo e errado) e viver apenas um legalismo religioso semelhante aos fariseus. Devemos ter e ser filhos obedientes, sem dúvida, mas ter e ensinar princípios [em Deus] que nos levam a ter comportamentos obedientes à sua vontade buscando glorificar a Deus. 

É por isso que não queremos pessoas boas, mas queremos que elas sejam cheias do evangelho e da graça de Cristo, aí sim vamos andar como é “digno da vocação com que fomos chamados” (Ef 4.1). Ser “bom” em si mesmo fará apenas você parecer ser “bom” pelos seus esforços e assim rejeite Cristo. O jovem rico era “bom” aos olhos dele mesmo e “cumpria” a lista dos deveres e obrigações de um judeu. Mas ele talvez tenha esquecido que a “lista” dos 10 mandamentos não era meramente uma lista, implicava em amar a Deus acima de todas as coisas e por isso nunca deveria ter nada ocupando o lugar de Deus em seu coração. 

Jesus Cristo quando estava diante dos fariseus não os apoiou no que faziam, pois Cristo sabia muito bem que eles estavam focados apenas no comportamento, mas Cristo estava focado na transformação do coração. Jesus não queria pessoas boas, queria pessoas com corações transformados, pois estes lutariam por obedecer a Deus e viver pra Sua glória. Os fariseus eram “bons” em julgar pelo comportamento (é o que a lei faz e até nisso somos reprovados), por isso achavam que poderiam ser bons, mas não cuidavam de suas intenções e seus corações. E muitas vezes somos semelhantes a estes fariseus. 

“Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.” Mateus 5:27-28

A lei nos mostra que somos incapazes e não somos bons, além disso, nos mostra que precisamos de um redentor, que é o próprio Cristo – o único que cumpriu todas as exigências da lista. Por isso somos amados por Deus e podemos ser salvos por sua graça. “Ele o ama por que você está no Filho que ele ama; sim, mas também porque ele escolheu derramar seu amor sobre você. Por quê? Eu não sei. Quando meus netos me perguntam por que eu os amo, eu não pego uma lista de todas as coisas que eles fazem que os tornam dignos do meu amor. Se eles me perguntam por que eu os amo, eu simplesmente digo: Porque você é você, e eu o amo” (Do livro: Pais Fracos, Deus Forte)

“Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” Romanos 5:8

“Podemos pedir-lhe [ao Espírito Santo] para nos ajudar a sermos “detetives da graça” para nos tornarmos mais conscientes da forma como o Senhor está trabalhando na vida deles do que da forma como estão falhando” [Em relação aos filhos] no livro “Pais Fracos, Deus Forte” – Editora FIEL. Este é o livro que citei no início do texto. Recomendo!

Dê uma lida também em: Lucas 18.11-14 e Mateus 15.7-11

Que o Senhor nos ajude a termos corações transformados!

Ps.: Entenda o uso do verbo “querer” quando aplicado na frase “não quero pessoas boas” ou "Jesus não queria pessoas boas". Não significa rejeição, mas o desejo de “formar”, “preparar”, “nutrir” pessoas que tenham um coração transformado pelo evangelho. Não significa que não amo as pessoas que não têm um coração transformado pelo evangelho, pelo contrário, as amo, mas que meu desejo é que essas pessoas sejam transformadas por ele.
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2 comentários:

Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. 2 Coríntios 5:14-15

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