quinta-feira, 2 de abril de 2020

O homem não foi criado para viver isolado


A natureza do próprio Deus já nos fala muito a respeito disso. Sua identidade demonstra comunhão entre as pessoas da trindade. E ao criar o homem Deus fez isso por meio do seu poder e da perfeita harmonia entre Pai, Filho e Espírito Santo. E depois de ter criado o homem, mesmo ainda não tendo pecado, Deus não o deixou viver isolado.

É impossível transmitir graça, perdoar, exercitar os dons dados por Deus vivendo sozinho. Por isso, podemos ter certeza que o plano de Deus é que seu povo viva em comunhão. O isolamento mais drástico que o homem um dia viveu foi da comunhão com Deus. E mesmo assim, Deus providenciou a aproximação, isto é, a reconciliação, por meio de Jesus Cristo.

Mas o isolamento também pode ser experimentado de outras maneiras muito difíceis. E é sobre isso que gostaria de comentar nos próximos parágrafos.

Isolamento social
Não é sobre a experiência que o mundo está vivendo atualmente que me refiro. Embora seja muito difícil e você possa sentir neste exato momento os impactos emocionais, físicos e econômicos, o “isolamento social” que estamos vivendo é uma medida que foi tomada por um bem maior: a preservação da vida.

Há muitos cristãos que foram forçados a deixar suas famílias sem oportunidade de despedida e estão isolados por causa da sua fé em Cristo. São pessoas que cumprem penas em locais desumanos, sofrem maus-tratos e agressões por amarem mais a Cristo do que suas próprias vidas.

Este não é um isolamento opcional. Tampouco é uma “quarentena” que dura quinze dias, um, dois ou três meses. Na maioria dos casos isso leva anos da vida destes irmãos. Se você já não sabe o que fazer em meio ao “isolamento” ou “distanciamento” que vivemos no Brasil. Pergunte-se: o que fazer na situação destes irmãos?

Muitos deles encontram nestas circunstâncias de fragilidade a força em Deus. Enquanto não há nenhuma opção em meio a uma prisão de poucos metros, Deus continua sendo a força destes irmãos. E o meditar na palavra ou em alguns versículos memorizados, o cantar algumas canções guardadas no coração é o que ajuda a manter a fé fortalecida.

Isolamento em meio às multidões
Embora pareça paradoxal, é muito comum e real: Viver isolado em meio a milhares de pessoas. Essa é a experiência de muitos cristãos especialmente em países muçulmanos, pois nestes casos aqueles que se convertem a Cristo precisam, na maioria das vezes, viver sua fé em segredo. Se são descobertos como cristãos, correm risco de serem presos, torturados, expulsos de casa pela família e até mesmo mortos.

Nesse contexto muitos cristãos não conseguem ou não podem ter comunhão com outros cristãos, pois essa é uma atividade extremamente difícil e perigosa. Isso significa não poder desfrutar do relacionamento com outros que possuem a mesma fé, não poder cultuar, cantar e orar juntos. É um isolamento no âmbito “espiritual”, ou da “fé”.

Tenho visto muitos comentários de pessoas que anseiam por voltar à comunhão do culto público presencial e poder desfrutar destes momentos com sua igreja local. E temos a certeza de que em um pouco mais de tempo poderemos fazer isso. Mas esta não é uma certeza quando se trata de cristãos secretos em países muçulmanos e principalmente em países como a Coreia do Norte, onde muitos cristãos nunca tiveram oportunidade de conhecer outro cristão na vida, tampouco cultuar, cantar ou orar junto.

Isolamento em locais remotos
Lidar com o isolamento não é uma tarefa nada fácil. Porém, viver o isolamento em locais longínquos é um desafio ainda maior. Não se trata simplesmente de estar longe, mas de ser, em muitos casos, esquecidos pelo “resto do mundo”. Muitos cristãos hoje vivem em locais remotos como montanhas, vilarejos e povoados. Embora essa não seja uma realidade apenas para cristãos, isso é um agravante quando eles são perseguidos por causa da sua fé, pois não tem a quem recorrer e continuam viver restrições, violências, abusos, maus tratos sem que o mundo os perceba.

Ao mesmo tempo em que podemos nos fazer percebidos por meio das redes sociais enquanto tomamos um drinque, fazemos exercícios, dançamos ou simplesmente expomos nossas ideias como faço agora nesse texto, o isolamento em locais remotos não permite que “suas realidades” sejam compartilhadas porque o mundo não as conhece.

E então, o que podemos fazer diante de tudo isso? Podemos usar o nosso tempo de “isolamento” para conhecer e orar pelos cristãos que vivem em situações como estas, em contextos bem piores.

É importante lembrar que somos um só corpo e isso não impõe barreiras geográficas. É verdade que esses cristãos enfrentam o isolamento das formas mais difíceis, mas eles não precisam lidar com isso sozinhos, pois as nossas orações podem chegar até eles.

Eles podem estar isolados, mas não abandonados. Nós estaremos lá! Essa é uma responsabilidade daqueles que podem chamar Deus de Pai.

Que Deus abençoe!

Willy Menezes

Ps.: Quero lhe encorajar a também observar e cuidar  daqueles que estão geograficamente perto e que podem enfrentar o isolamento de uma maneira também muito difícil. Este é tema para um provável futuro texto. 

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Ter razão nem sempre resolve problemas


Já viajei muito com meu pai. E, em uma das viagens, na minha adolescência, lembro de ter me chamado atenção os caminhões que vinham na outra mão. Eu percebi que, algumas vezes, meu pai tinha que sair da mão que estávamos seguindo, e desviar para o acostamento. O objetivo dele era evitar algum tipo de acidente, pois os caminhões repetidamente invadiam a nossa mão enquanto ultrapassavam. Não lembro exatamente suas palavras, mas o que ele me ensinou com aquilo foi que permanecer na própria mão, apenas porque é nosso direito, não iria fazer evitar algum acidente, pelo contrário!

Por isso, querer ter razão nem sempre é a melhor opção. Em proporções diferentes, as vezes é necessário desviar para o acostamento a fim de manter a paz com outra pessoa. E isso me ressurgiu muito intensamente no casamento. Foi nesse contexto que ouvi a frase de um amigo: “você quer ser feliz ou ter razão? ”. Em certo sentido, a frase carrega uma boa intenção, embora uma opção não invalide, necessariamente, a outra. Mas a ideia é bem clara que, em muitas situações, não adianta discutir e ter razão quando, por outro lado, deixa triste o coração de quem se ama e, por consequência, o próprio.

Eu diria que vencer um argumento é até simples. Basta um pouco de estudo de retórica e lógica. O difícil é vencer o orgulho dentro de nós. Querer ter razão nem sempre é um sinal de ter a verdade, as vezes é muito mais indicativo de um coração orgulhoso. Quando vencemos um argumento simplesmente pelo desejo de estarmos certos, silenciamos e massacramos um coração. Por outro lado, quando há amor pela pessoa, os esforços não são concentrados em provar que se tem a razão, mas em quanto se quer o bem daquela pessoa. Quando o amor vence o ego, a última coisa que se deseja falar é: eu tinha razão ou eu avisei. Isso apenas mostra que ter razão não é tudo.

Por fim, se tratando de conflitos no relacionamento, sei que inúmeras vezes a pessoa que amamos precisa de disciplina. Sim, precisa que alguém lhe abra os olhos e lhe fale as verdades necessárias. Precisa ouvir com firmeza onde está errando e o que precisa mudar. Para estas ocasiões, permita-me propor: (1) organize de forma clara e lógica os pontos que você precisa falar. (2) não fale sem antes orar pela outra pessoa. (3) apresente caminhos melhores, ou seja, soluções práticas. (4) seja o maior encorajador dela. E caso ela não seja convencida, ore continuamente. Em outras ocasiões, principalmente em meio a discussões exasperada, talvez a melhor opção seja calar. É possível que você tenha uma bela experiência com Deus por meio da perseverança em oração. Muitas mudanças são frutos de um longo período de oração.

Willy Menezes

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Considerações urgentes sobre o papel do homem no casamento



Nos últimos meses eu tenho sido incomodado com algumas questões relacionadas ao papel do homem no lar. Esse tema ainda é um grande desafio para mim e tenho aprendido a duras penas – minha esposa que o diga! Por outro lado, considero algumas questões inaceitáveis. E até brinco “esse tipo de homem deveria ser preso! ”, é claro que essa não é uma solução razoável, muito menos bíblica. Mas a coloquei apenas para você entender onde vai minha indignação. 

A Bíblia diz que os maridos devem amar a sua mulher como Cristo amou a igreja e se entregou por ela (Ef. 5.25). A partir desse imperativo de Paulo, levando em conta o exemplo de Cristo, gostaria de destacar algumas implicações e responsabilidades do homem no lar.

            Primeiramente, Cristo amou a igreja sob um pacto feito com ela, chamado de nova aliança, portanto, o amor do marido para com a mulher deve ser pactual. O que significa isso? Olhemos para o exemplo de Cristo. O relacionamento entre Cristo e a Igreja não considera circunstâncias nem impõe condições, ele está fundamentado no pacto feito por Cristo. Da mesma forma, o amor entre o marido e a mulher deve ser sob o pacto, ou seja, a aliança que firmaram e que não dependente de circunstâncias, emoções ou condições. E Deus é testemunha desta aliança.

            Em segundo lugar, o marido deve dar sua vida pela mulher. Isso não requer uma ação somente em uma situação crítica de vida ou morte. É evidente que neste momento também. Mas o “se entregar por ela” reflete também uma doação constante pela esposa. Em termos práticos, o marido deve considerar a esposa em primeiro lugar antes de cuidar do que é propriamente seu. Ou seja, antes de nos preocupar com o futebol ou qualquer atividade, devemos nos preocupar se a esposa está satisfeita ou quais suas necessidades para aquele momento ou período. Se qualquer atividade vem em primeiro lugar, isto é, antes da esposa, não estamos a amando como Cristo amou a Igreja, e isso é pecado. Esse princípio deve nortear nossas escolhas e projetos.

            Em terceiro lugar, Cristo amou a Igreja com alimento e cuidado (v. 29). Indo direto na questão prática, isso indica a responsabilidade do marido de levar a esposa à maturidade e protege-la contra ataques físicos e espirituais. O marido deve pastorear sua esposa e levá-la a crescer. A provisão física e espiritual é uma ideia clara aqui!

            Todas as vezes que não priorizamos nossas esposas, ou que dedicamos mais atenção e tempo a qualquer coisa do que a ela, cometemos pecado. Todas as vezes que desejamos satisfazer os nossos próprios desejos e não nos esforçamos para satisfazer os das nossas esposas, cometemos pecado. [Eu acho que não preciso dizer que não estou me referindo a “desejo” pecaminoso, mas resolvi me certificar] A saúde do relacionamento é responsabilidade do marido. É claro que a mulher tem culpas, pecados, e sua parcela, mas isso não exime a responsabilidade do homem. Quando a Bíblia diz que o homem é o cabeça, ela não diz que ele deve se esforçar para ser, pois o “ser cabeça” é um fato. A questão é que tipo de cabeça o marido é. O que foge das responsabilidades e põe a culpa na mulher, semelhante a Adão? Ou o que assume a responsabilidade a ponto de dar a vida pela esposa semelhante a Cristo? Eu compreendo muito bem o marido que se esforça, mas muitas vezes não consegue, mas jamais poderia compreender aquele que não tenta.

            Se você é esposa e está lendo esse texto imaginando algo como “meu marido deveria ler isso”, vou lhe pedir que não marque ou encaminhe a ele como indireta, pois isso certamente ferirá a honra do seu marido. Mas com calma, ore, arrependa-se dos pecados que cometeu, livre-se de qualquer amargura, sente com seu marido e sugira a leitura do texto.

Willy Menezes

sábado, 7 de outubro de 2017

“É assim que Deus disse?” A serpente no século XXI.


“É assim que Deus disse?” a serpente no século XXI.

Com certeza você conhece a frase em Gênesis 3.1, quando a serpente no diálogo com Eva questiona: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?”, esse foi parte do diálogo que precedeu a queda da humanidade.

O homem já havia recebido a ordem clara de Deus: “De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Gn 2.16-17).

Quero compartilhar 3 cuidados para que possamos nos atentar, a partir da palavra de Deus, com os ataques e argumentos no século XXI, para que não nos afastemos de Deus e da sua verdade.

1º cuidado.
A primeira ação da serpente foi lançar dúvida sobre a palavra que Deus havia dito. Deste modo, instigou dúvida no coração de Eva em relação ao que ela ouviu do Senhor: é assim que Deus disse?. Adão e Eva eram conhecedores da verdade, mas isso não foi o suficiente para não serem enganados. Satanás minou a dúvida nos corações deles. E não é assim nos dias atuais?

Ser conhecedor da verdade nem sempre é o suficiente para que não caiamos nas armadilhas do mundo sem Deus. Precisamos ter convicção de tal verdade e não darmos ouvidos ao que vem de encontro contrário à palavra de Deus. Por isso, cuidado com vãs filosofias, discussões e ideias que são contrários à verdade de Deus. Preserve seu coração sempre naquilo que é verdade de Deus e persevere sempre nisso.

Os esforços que o mundo empenha em colocar em cheque a palavra de Deus é violento e diário. Podemos notar isso por meio da televisão, internet, e outras mídias. Isso infelizmente tem alcançado as escolas e universidades, que se tornaram ambientes de uma luta ainda maior para que a verdade de Deus seja colocada de lado. O mais triste é ver que muitos são levados e vencidos pelo esforços desse mundo.

Não se engane achando que essa é uma advertência para os que não conhecem a Deus. Esse texto foi escrito para alertar os que são parte da família da fé, aqueles que, assim como Adão e Eva, tinham plena consciência do que Deus ordenou.

2º cuidado
O método de satanás tem sido o mesmo no século XXI: colocar dúvida no coração do homem diante da verdade que Deus ordenou. Porém, seus esforços não acabam por aí pois, além de levantar a dúvida, em seguida ele substitui o que Deus disse pela sua própria palavra, que é contrária à verdade divina: “É certo que não morrereis.” (Gn 3.4) e depois argumenta em cima da sua falsa afirmação: “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.”

A semelhança com os dias que vivemos é imensa. Não somente colocam em cheque a verdade que Deus diz, como também, em seguida, propõe uma mentira no lugar da verdade. É comum vermos em nosso tempo grupos que advogam causas como  ideologia de gênero, feminismo e movimentos esquerdistas se valendo da bíblia  para afirmar algo contrário ao que Deus disse. O mais lamentável é ver alguns do meio da igreja se tornando adeptos de tais movimentos, pois deram ouvidos e trocaram a verdade de Deus pelas mentiras de satanás.

Não somente isso, em muitas igrejas se faz o mesmo quando certos “pregadores” abrem a boca para pregar sobre si mesmos, ensinando doutrinas de homens, advogando uma causa própria, desejando construir impérios para si, defendendo suas ideologias. Estes, há muito tempo deixaram de pregar a verdade de Deus.

3º cuidado
Apesar dos ataques do mundo sem Deus serem externos, nós certamente cedemos por causa da nossa fraqueza interna. Os nossos apetites naturais são traiçoeiros e podem nos levar a tomar decisões deliberadamente contrárias à verdade divina.

Embora a natureza de Adão e Eva não ter sido contaminada até a queda, os apetites naturais eram evidentes. Contudo, naquele momento, a mulher sucumbiu à tentação de satanás, entregando-se aos desejos pecaminosos da natureza no momento que não deu crédito ao que Deus disse. Foi quando ela viu que a “árvore era boa para se comer (desejo da carne), agradável aos olhos (desejo dos olhos) e árvore desejável para dar entendimento (soberba da vida)” (Gn 3.6). Notamos essa advertência em 1 João 2.16.

É isso o que acontece quando não damos ouvidos à verdade divina e passamos a ouvir o que o mundo sem Deus diz, a saber, satanás. Nessa questão não há imparcialidade pois só há 2 lados, a mentira ou a verdade. É impossível um meio termo. Ou você caminha firmado naquilo que Deus disse, ou você caminha firmado no que satanás disse.

Logicamente há uma consequência natural para qualquer uma das decisões: ou você se aproxima de Deus ou você se aproxima do mundo. É como afirma Tiago 4.4: Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.”

Finalizando
Meus irmãos, que Deus nos ajude a caminhar na sua verdade. Que a nossa mente seja livre dos embaraços desse mundo e nos firme cada vez mais naquilo que o Senhor já nos disse. Para isso, precisamos nos dedicar mais e mais à leitura da sua palavra e à oração.  

Devemos cuidar para que, em nossos dias, não sejamos propagadores dos enganos de satanás, trocando a verdade de Deus pela mentira da serpente. Que sejamos trabalhados por Deus em humildade e sujeitando cada vez mais nossos apetites naturais à ordem de Deus. Se ele disse: não coma, não comeremos! Ainda que tenhamos vontade. Não vivemos para desfrutar das nossas vontades, mas para fazer a vontade de Deus. Isso significa nos sujeitar à Deus.

Que Deus nos livre de viver tudo que queremos. Que Deus nos livre de dar crédito à outra verdade, que não seja a dele. E que nossa maneira de pensar seja completamente moldada pela verdade divina e não pelo que achamos bonito e faz parte desse mundo.

Por fim, se você tem caído algumas vezes nessa armadilha da serpente no presente século, como muitas vezes me vejo ameaçado, temos uma grande esperança, a saber, Jesus Cristo. Ele é aquele que não deu crédito às mentiras de satanás e permaneceu firme nas verdades de Deus (Mt 4.1-11). E mais do que isso, foi Cristo quem morreu para poder nos salvar da condenação do pecado. É Cristo quem nos reconcilia com Deus e nos dá vida e na bíblia podemos encontrar seus conselhos!

Willy Menezes

quinta-feira, 23 de março de 2017

"Quem sou eu?" por Dietrich Bonhoeffer

Este poema foi escrito por Dietrich Bonhoeffer na prisão militar de Berlim-Tegel na correspondência em julho de 1944, destinada ao seu amigo Eberhard Bethge. Bonhoffer foi detido em março de 1943, e enforcado 9 de abril de 1945. E em 7 de maio de 1945 a guerra chegou ao fim.

Quem Sou Eu?

Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que saio da minha cela
tão sereno, alegre e firme
qual dono de um castelo.

Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que da maneira como falo
aos guardas, tão livremente,
como amigo e com clareza
parece que esteja mandando.

Quem sou eu? Também me dizem
que suporto os dias do infortúnio
impassível, sorridente e com orgulho
como alguém que se acostumou a vencer.

Sou mesmo o que os outros dizem de mim?
Ou apenas sou o que sei de mim mesmo?
Inquieto, saudoso, doente,
como um passarinho na gaiola,
sempre lutando por ar, como se me sufocassem,
faminto de cores, de flores, às vezes de pássaros.
Sedento de palavras boas, de proximidade humana,
tremendo de ira a respeito da arbitrariedade
e ofensa mesquinha,
nervoso na espera de grandes coisas,
em angústia impotente pela sorte de amigos distantes,
cansado e vazio até para orar, para pensar, para produzir,
desanimado e pronto para me despedir de tudo?

Quem sou eu? Este ou aquele?
Sou hoje este e amanhã um outro?
Sou porventura tudo ao mesmo tempo?
Perante as pessoas um hipócrita?
E um covarde, miserável diante de mim mesmo?
Ou será que aquilo que ainda em mim perdura,
seja como um exército em derradeira fuga,
à vista da vitória já ganha?

Quem sou eu?
A própria pergunta nesta solidão
de mim parece pretender zombar.
Quem quer que sempre eu seja,
tu me conheces, ó meu Deus,
sou teu.


Manuscrito do poema "Quem sou eu?"

Bonhoeffer escreveu vários livros. Dentre eles, alguns em português:
  • Discipulado
  • Vida em Comunhão
  • Resistência e Submissão
Dietrich Bonhoeffer. Resistência e submissão: cartas e anotações escritas na prisão. São Leopoldo: Sinodal, 2003, p.468-469.
Imagem: http://lendobonhoeffer.blogspot.com.br/2016/05/quem-sou-eu.html

domingo, 19 de março de 2017

Uma breve história da Igreja Moraviana

Por quase cinco séculos a Igreja Moraviana proclamou o evangelho em todas as partes do mundo. Sua influência excedeu numericamente por ter cooperado com cristãos de todos os continentes e ter sido uma parte visível do Corpo de Cristo, a Igreja.

Orgulhosa de sua herança e firme em sua fé, a Igreja Moraviana ministra às necessidades das pessoas onde quer que eles estejam. O nome Moraviano identifica o fato de que a história da igreja tem sua origem na antiga Boêmia e Morávia que atualmente é a Republica Checa. Em meados do século IX esses países se converteram ao cristianismo principalmente através da influência de dois missionários gregos ortodoxos, Cyril e Methodius. Eles traduziram a bíblia para o idioma comum e introduziram ao ritual da igreja nacional. Nos séculos seguintes, Boêmia e Morávia gradualmente caíram sob a jurisdição eclesiástica de Roma, mas alguns dos povos checos protestaram.


O principal dos reformadores Checos, John Hus (1369-1415), foi um professor de filosofia e reitor da Universidade de Praga. A Capela de Belém em Praga, onde Hus pregava, se tornou um lugar de reunião para os reformadores Checos. Ganhando apoio dos estudantes e das pessoas comuns, ele liderou um movimento protestando contra muitas práticas do clero e hierarquia Católica Romana. Hus foi acusado de heresia, sofreu um longo julgamento no Conselho de Constança, e foi queimado na fogueira em 6 de julho de 1415.

Organizado em 1457

O espírito da reforma não morreu com Hus. A Igreja Moraviana ou Unitas Fratrum (Irmãos Unidos), como tem sido conhecido oficialmente desde 1457, surgiu como seguidores de Hus, reunidos na aldeia de Kunvald, cerca de 160 quilômetros a leste de Praga, na Boêmia oriental, e organizaram a igreja. Isso foi 60 anos antes de Martinho Lutero começar a reforma e 100 anos antes do estabelecimento da Igreja Anglicana.

De acordo com Gregory, o Patriarca, considerado o fundador do Unitas Fratrum, o que fez um cristão não era a doutrina ou o que ele ou ela acreditava, mas que uma pessoa viveu de acordo com os ensinamentos de Jesus Cristo. Ele descreveu esses primeiros moravianos como “pessoas que decidiram de uma vez por todas, serem guiados somente pelo evangelho e exemplos do nosso Senhor Jesus Cristo e seus santos apóstolos em generosidade, humildade, paciência, e amor com os nossos inimigos.” (Rican, História da Unidade)

Até 1467 a Igreja Moraviana, estabeleceu seu próprio ministério, e nos anos seguintes, três ordens de ministério foram definidos: diáconos, presbiterianos e bispos.

Crescimento, Perseguição e Exílio

Até 1517 a Unidade de Irmãos numerava pelo menos 200,000 com mais de 400 paróquias. Usando um hinário e catecismo próprio, a igreja promoveu as Escrituras através de duas prensas de impressão e providenciou paras as pessoas de Boêmia e Morávia com a bíblia na seu próprio idioma.

Uma amarga perseguição, que estourou em 1547, levou à expansão da igreja dos irmãos para a Polônia onde cresceu rapidamente. Até 1557 havia três províncias da igreja: Boêmia, Morávia e Polônia. A Guerra de trinta anos (1618-1648) trouxe mais perseguição à Igreja dos Irmãos, e os protestantes da Boêmia foram severamente derrotados na batalha das montanhas brancas em 1620.

O líder principal das Unitas Fratrum nesses anos tempestuosos foi o Bispo John Amos Comenius (1592-1670). Ele se tornou mundialmente conhecido por suas visões progressistas de educação. Comenius viveu a maior parte de sua vida em exílio na Inglaterra e na Holanda onde morreu. Sua oração foi que algum dia as “sementes escondidas” da sua amada Unitas Fratrum mais uma vez floresça para uma nova vida.

Renovado em 1700

O século XVIII viu o renovo da Igreja Moraviana através do patrocínio do Conde Nicholas Zinzendorf – jovem Ludwig Von Zinzendorf, um nobre pietista na Saxônia. Algumas famílias moravianas fugindo da perseguição na Boêmia e Morávia encontraram refúgio na propriedade de Zinzerdorf em 1722 e construíram a comunidade de Herrnhut. A nova comunidade se tornou um refúgio para muitos outros refugiados moravianos.

Conde Zinzerdorf os encorajou a manter a disciplina da Unitas Fratrum, e ele deu à eles a visão de levar o evangelho para os cantos mais distantes do mundo. Em 13 de agosto de 1727, marcou a culminação de uma grande renovação espiritual para a Igreja Moraviana em Herrnhut, e em 1732 os primeiros missionários foram enviados para as Índias Ocidentais.

Moravianos na América

Os primeiros moravianos chegarem na América durante o período colonial. Em 1735 eles foram parte do Instituição Filantrópica de Oglethorpe em Geórgia. A tentativa de estabelecer uma comunidade em Savana não foi bem sucedida, mas eles fizeram um impacto profundo na vida do jovem John Wesley que tinha ido à Geórgia durante uma crise espiritual pessoal. Wesley ficou impressionado que os moravianos se mantinham calmos durante uma tempestade que estava assustando os marinheiros mais experientes. Ele ficou espantado com as pessoas que disseram não temer a morte, e voltando a Londres ele adorou com os moravianos na Capela Fetter Lane. Lá seu “coração foi estranhamente aquecido”.

Após o fracasso da Missão na Geórgia, os moravianos foram capazes de estabelecer uma presença permanente na Pensilvânia em 1741, na propriedade de George Whitefield. Os colonos moravianos compraram 500 hectares para estabelecerem o assentamento de Bethlehem em 1741. Logo, eles compraram os 5,000 hectares de Barony of Nazareth do Gerente de Whitefield, e as duas comunidades de Bethlehem e Nazareth se tornaram mais próximas vinculando sua agricultura e economia industrial.

Outro assentamento de congregações foi estabelecido na Pensilvânia, Nova Jersey e Mary Land. Eles construíram as comunidades de Bethlehem, Nazareth, Lilitz e Hope. Eles também estabeleceram as congregações na Filadélfia e no Staten Island em Nova York. Tudo foi considerado centros de fronteiras para a difusão do evangelho, particularmente na missão aos Nativos Americanos. Bethlehem foi o centro das atividades moravianas na América Colonial.

O Bispo Augustus Spangerberg conduziu uma parte para examinar uma área de 100.000 hectares de terra na Carolina do Norte, que veio a ser conhecida com Wachau depois de uma propriedade austríaca do Conde Zinzerdorf. O nome, mais tarde anglicizado para Wachovia, se tornou o centro de crescimento para a igreja da região. Bethabara, Bethania e Salem (agora Winston-Salem) foi o primeiro assentamento moraviano na Carolina do Norte.

Em 1857 as duas províncias americanas, Norte e Sul, se tornaram amplamente independente e expandiram. Bethlehem em Pensilvânia e Winston-Salem na Carolina do Norte se tornaram o quartéis generais das duas províncias (Norte e Sul).

A Província Sulista cresceu principalmente no Forsyth County, mas com o passar do tempo estabeleceram congregações em Charlott, Greensboro, Wilmington, Raleigh e Stone Mountain, Geórgia. Igrejas Moravianas na Flórida estão crescendo com a influência dos imigrantes da bacia do Caribe.

A Província do Norte expandiu com a influência dos imigrantes da Alemanha e Escandinávia para o centro-oeste no final do século XIX. Agora alcança ambas as costas do norte como Edmonton, Canada. Green Bay, Wisconsin, foi fundado por moravianos. Essa ampla extensão geográfica fez com que a província do norte fosse dividida em distritos orientais, ocidentais e canadenses.

Após a II Guerra Mundial, fortes impulsionadores para a extensão da igreja levaram a província do norte ao Sul da Califórnia (onde apenas uma missão indígena existia desde 1890) bem como alguns locais do leste, centro-oeste e canadense. A Província do Sul acrescentou numerosas igrejas na área de Winston-Salem, ao longo do Norte de Carolina e estendendo seu alcance para Flórida e Geórgia. Na Carolina do Norte, a Igreja Moraviana tem congregações em 16 estados, o Distrito da Columbia, e em duas Províncias do Canada. 

Uma Igreja Cristã Mundial

Sempre com espírito ecumênico, os moravianos estavam entre os primeiros membros do conselho nacional e mundial de igrejas. A Igreja estabeleceu um número de escolas na América, a mais importante dessas foi Salem Academy and College, Moravian College, Theological Seminary, e escolas preparatórias em Lilitz e Bethlehem. Em 1957 a Igreja mundial moraviana foi reorganizada em mais de uma dúzia de províncias semi-autônomas que continuam sendo parte de uma única igreja global. Um Sínodo de Unidade é realizado a cada sete anos para decidir assuntos que afetam toda a igreja moraviana.

Atualmente existem mais de um milhão de membros da Igreja Moraviana no mundo. A maioria deles vivem na Africa Oriental. Outra maioria de centros moravianos estão na bacia do Caribe (U.S. Virgin Islands, Antigua, Jamaica, Tobago, Suriman, Guyana, St. Kitts, e a Costa Miskito de Honduras e Nicaragua), Africa do Sul, Winston-Salem, e Bethlehem, Pa. Há agora 19 províncias da Unidade.
 
Embora os moravianos desempenharam um papel importante na história da colonização americana, a igreja no Norte da América conta com apenas 60,000 (incluindo Canada, Alasca, Labrador). Uma das razões da diferença na membresia entre os Estados Unidos e o resto do mundo é que os moravianos viram seu chamado distinto como trazer as boas novas do amor infinito de Deus aos mais pobres e mais desprezíveis do mundo.

Tradução: Tatiane Menezes
Revisão: Willy Menezes
Fonte: Fonte: http://www.moravian.org/the-moravian-church/history/

segunda-feira, 6 de março de 2017

O que é o fruto da vida do crente?


Quando Jesus falou sobre o fruto [ou frutos] que seus seguidores deveriam ter, a que tipo de resultado ele estava se referindo? É basicamente a resposta desta pergunta que eu gostaria de compartilhar neste breve texto. Primeiramente quero tratar sobre o que não são estes frutos.

Geralmente cometemos a falha de observar os frutos por uma perspectiva errada e não poucas vezes confundimos os “critérios de avaliação”. Somos mais tendenciosos a nos impressionar com grandes sinais, carismas, dons e expressões que saltam aos nossos olhos. Queremos ver as coisas acontecendo e sentir o arrepio na pele. Porém, se tratando dos frutos que Jesus disse, esses não são os primeiros indicadores, tampouco o que os determina.

Os frutos que Jesus espera de nós não são, primeiramente, expressão de autoridade, poder, milagre ou algum outro carisma. Pois o próprio Jesus disse, referindo-se a esse contexto: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.” (Mateus 7:22.23) ou seja, é possível fazer tudo isso e não ser discípulo de Cristo.

Dito isto, vamos pensar sobre o que seria então os frutos. Quando lemos o sermão do monte, Jesus estava ensinando sobre qualidades distintivas de um discípulo, ou seja, caráter, tais como humildade, mansidão, justiça, misericórdia e outros. Em outra ocasião ele diz: “Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos. ” (João 15:8) e para Jesus, o “ser discípulo” estava relacionado a “negar a si mesmo” pois "...qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo." (Lucas 14:27) e isso indica viver a vida de Cristo, por isso, o fruto da vida do crente não é medido por ações extraordinárias ou seus feitos, mas por seu caráter ser o mais próximo do de Cristo. Neste sentido fica muito claro quando lemos Gálatas 5.22-23 falando sobre caráter e não sobre carisma quando trata sobre o fruto do Espírito. Jesus estava falando sobre ter um caráter transformado e não sobre grandes demonstrações de poder.

Voltando à Mateus 7, após Jesus dizer “pelos seus frutos os conhecereis. ” (v.20) ele diz quem é o tipo de pessoa que produz bons frutos: “Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha” (Mateus 7:24) e aqueles a quem Jesus disse: “Nunca vos conheci” são os insensatos: “E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia” (Mateus 7:26) e estes não produzem bons frutos.

Portanto, busquemos todos os dias ter um caráter semelhante ao de Cristo e não expressão de poder algum. Que sejamos mais parecidos com o homem prudente que ouve a palavra de Deus e as pratica. Certamente esta é uma obra que somente Cristo pode operar em nossas vidas, por isso, devemos clamar pela transformação graciosa todos os dias em nossas vidas. Sugestão de leitura: Mateus 7.15-29; João 15.16-20 e Gálatas 5.22-23.

Em Cristo,
Willy Menezes


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

“Os teus olhos me viram a substância ainda informe...” Salmo 139.16


“Os teus olhos me viram a substância ainda informe...” Salmo 139.16

Nada é encoberto de Deus na formação de qualquer pessoa. Deus é quem forma o íntimo do ser e dá origem à vida. E Ele mesmo é testemunha dessa assombrosa e maravilhosa formação, pois como diz o salmista “os teus olhos me viram a substância ainda informe”, o mesmo que “embrião”. Quando me pus a pensar nisso, meu corpo tremeu literalmente por ver quão maravilhoso Deus é.

Ele mesmo é quem considera a importância da vida mesmo sendo ainda uma substância não formada, mesmo sendo ainda um embrião. Por isso é que não se trata de um amontoado de células. Se trata da grandeza de Deus sendo revelada por meio da formação do homem, são as admiráveis obras do Senhor; e a minha alma o sabem muito bem. Quem sou eu para dizer o contrário? Me colocarei contra tamanho testemunho de Deus? Eu diria, quem é o STF para dizer o contrário?

"Por que eu deveria tratar um embrião - ele ainda não é nem um feto -, como um ser humano vivo"*, disse uma jornalista “cristã”. É simples, porque Deus já considera com tamanha importância e amor, porque são obras maravilhosas e admiráveis das mãos do Senhor. Porque o homem já é portador da imagem divina no ventre da sua mãe, e por isso é um ser distinto de toda criação. Nada mais!

Sugiro a você a leitura e meditação do Salmo 139.

Que Deus abençoe,
Willy Menezes






quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Selfie, identidade e desejos. Uma breve reflexão sobre eu e você!

É triste notarmos que muitas intenções nossas são, na verdade, para promover aquilo que não é, a fim de saciar o que os outros desejam e aplaudem. Nos esforçamos para apresentar aos demais aquilo que eles mais desejam. Não somente isso, queremos também saciar a nossa necessidade de sermos notados pelos outros e não poucas vezes nos apresentamos à plateia como alguém que não somos e sim a imagem que construímos. Tomamos emprestado os desejos dos outros sem ao menos nos questionarmos a respeito e se há valor nisso. O desejo do nosso coração é tão corrompido que mal podemos sondar a nós mesmos. Diante disso, quero compartilhar algumas áreas de atenção sobre nossa vida que eu e você precisamos, em certa medida, tomar cuidado.

Identidade emprestada
Quem seria você se [você] não tivesse ouvido de outros o que pensam sobre você? Se não tivessem dado opinião alguma sobre quem você é? Algumas vezes acreditamos mais no os outros dizem a nosso respeito do que aquilo que realmente acreditamos ser em nossa essência. Cremos, por diversas vezes, que somos aquilo que a sociedade vê e diz quem somos, mesmo diante dos seus interesses políticos, sociológicos ou econômicos. E facilmente nos tornamos escravos disso. Perdemos a nossa identidade e tomamos emprestada a identidade que a sociedade nos deu.
            Em última análise, o que a Bíblia diz sobre nós é aquilo que somos, e isso é o que deve ser determinante. Mas é preciso conhece-la. O nosso histórico de vida, a sociedade, educação, cultura e tudo que vamos apreendendo durante a nossa vida faz parte da construção da nossa identidade, mas não é determinante sobre quem nós somos. Somente aquele que nos constituiu (que nos deu vida) tem autoridade e capacidade de dizer quem somos e para que fomos criados.

Imagem emprestada
            Sabe aquele momento que nos esforçamos para mostrar aos outros aquilo que não somos ou não estamos vivendo? Estamos, na verdade, desejando ser o ideal de pessoa que todos querem ver e que admirar. Queremos apresentar uma boa imagem para que todos possam curtir. São aqueles momentos que gastamos mais tempo preparando o cenário para a foto e pensando em quantas curtidas receberemos do que vivendo o que a vida nos permite viver. Organizamos o ambiente para mostrar uma imagem que não é real. Mas por trás de tudo isso? Como anda o coração? Muitas vezes tédio, indecisão, falta de identidade e infelicidade são o que sobram. Não estou falando de fotos profissionais, comerciais ou coisas do tipo. E sim em questões relacionadas ao dia-a-dia.
            O mundo hoje (em especial na internet), em grande medida, é feito por cenários montados e ambientes manipulados. De um lado alguém que deseja ser o ideal para os outros e suprir as expectativas de terceiros se saciando nisso. E de outro lado pessoas que fingem e insistem em acreditar que a vida é como se vê nas fotos. Mas que no fundo, no fundo, sabem que a realidade é diferente, mas não querem se render a ela. Preferem continuar em um ‘mundo ideal’, repleto de ilusões.
            Todas as vezes que queremos mostrar algo que não é real estamos, na verdade, revelando uma grande necessidade do nosso coração. Curtidas e aplausos não resolverão o problema. Somente Cristo pode suprir e preencher este vazio, pois fomos feitos à imagem e semelhança dele. Aquilo que nos falta só pode ser encontrado nele.

Desejos emprestados
Este ponto é bem interessante e tem tudo a ver com nossa identidade. Você já parou para pensar que muitos dos nossos desejos são, na verdade, desejos que tomamos emprestados de outras pessoas? Muitas vezes não desejamos algo em si, genuinamente, mas passamos a desejar porque todos estão desejando, ou porque um grupo determinado de pessoas (do qual queremos fazer parte) desejam. Pense um pouco nisso!
Isso se relaciona no campo das personalidades também. Será que admiramos tais personalidades pelo fato de realmente conhece-las ou saber das suas ideias? Ou porque todos dizem algo bom sobre ela e estão aplaudindo-a por conta do seu status atual? Se ela não fosse tão aplaudida e notada pelos outros, apenas por você, será que ainda assim a admiração existiria?

Defesas das ideias emprestadas
Algo possível e claro de se notar é que, muito facilmente, as pessoas que defendem determinadas ideias, na verdade não conseguem justifica-las. Não são poucos os meros imitadores que encontramos principalmente na internet, que não consegue encontrar base alguma para argumentar aquilo que defende. No fim, acaba no campo da subjetividade, que não consegue ser explicada com o mínimo de lógica, razão ou justificativa possível.
O complicado é quando isso acontece com a nossa Fé. Será que estamos apenas reproduzindo dogmas, argumentos e ideias? Ou temos capacidade para fundamentar nossas concepções a partir do conhecimento bíblico?  Temos que ter cuidado para não tomarmos emprestadas as ideias de outros sem saber, no mínimo, por qual motivo estamos fazendo isso.

Nos deparamos constantemente com todas as situações acima e nem sempre vamos conseguir filtrá-las. Sempre tento analisar qual é minha verdadeira intenção em falar ou publicar algo, como por exemplo, este texto. As vezes sou enganado por mim mesmo, por argumentos que crio e estou convencido; na verdade são meus desejos corrompidos que me driblam e são executados. Diante de tudo isso vejo o quanto somos necessitados de Deus e não somos capazes de discernir a nós mesmos.

Não há problema algum em postar fotos, publicar textos, compartilhar suas ideias, desejar algo, admirar ou imitar alguém. Isso é natural do ser humano e faz parte. Porém, o exercício da reflexão nunca foi tão importante. Vamos desligar o “modo automático”, parar e pensar um pouco. É sempre bom analisarmos o motivo que nos leva a fazer ou desejar algo. Sem dúvida, muitos desejos são genuínos, mas alguns ficarão sem explicação ou virão acompanhados de uma justificativa esfarrapada. Desconfie destes!

Creio que um bom exercício é pensarmos um pouco sobre quem nós somos. Refletir um pouco sobre nossa identidade e sentido de vida. Quais nossos maiores sonhos, virtudes, dificuldades e limitações? No que, de fato, cremos, como e porque cremos? E afinal, onde e como queremos chegar? Qual foi a última vez que você parou para refletir sobre isso?

Diante disso, mais uma vez vemos que Deus é o único capaz de sondar plenamente nossos corações e intensões. Que Ele seja nosso parâmetro, nossa direção, nosso princípio e nosso alvo. E que Ele sonde todos os dias nossos corações e mentes. Sugiro a leitura do Salmo 139. E depois um pouco sobre a "Teoria Mimética".

Um abraço,

Willy Menezes

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Santificação: obra de Deus ou do homem?


"...à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso" 1 Coríntios 1.2

Percebemos no versículo acima dois aspectos importantes sobre "santidade". Paulo saúda a igreja em corinto e escreve aos ‘santificados em Cristo Jesus’ e que estes são chamados para 'ser santos'. O que isso quer dizer?

Ser ‘santificado em Cristo’, significa que nós somos separados em Cristo Jesus. Isso nos mostra uma condição em que nos encontramos. Se refere a uma posição (status) que desfrutamos graças à obra redentora de Jesus . Isso quer dizer que esta santificação não é alcançada por esforços humanos. Isso foi realizado uma única vez e sendo suficiente para sempre. Isso tem a ver com a salvação.

O segundo aspecto que Paulo destaca é que estes ‘santificados em Cristo Jesus’ são chamados para ser santos. E isso significa viver seguindo os passos de Cristo, e viver de maneira digna da vocação que fomos chamados (Ef 4.1). Esta santificação requere esforços diários, mas somente será possível se formos separados em Cristo Jesus. Deve ser evidência viva, na prática, de alguém que foi salvo em Cristo. Isso deve ser realizado constantemente, todos os dias, até que cheguemos na glória. Isso tem a ver com quem é salvo.

Para complementar gostaria de resumir três importantes aspectos da salvação:

1. Somos livres da culpa do pecado - tem a ver com nossa justificação em Cristo (passado)
2. Somos livres do domínio do pecado - tem a ver com nossa santificação diária (presente)
3. Seremos livres da presença do pecado - tem a ver com nossa glorificação em Cristo (futuro)

O desafio

"...todos, a uma voz, gritaram por espaço de quase duas horas: Grande é a Diana dos efésios!" Atos 19.34

Quando Paulo escreve à igreja de Éfeso, ele nos mostra como era o entendimento bíblico sobre santidade. E não há padrão melhor para entendermos como devemos viver a santidade nos dias de hoje. Éfeso era uma das maiores cidades do império romano, com uma grande população pagã. Ali viviam os adoradores da deusa Diana, que possuía um templo com 20 metros de altura, e era considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo.

O culto à própria deusa Diana era uma das grandes fontes de economia daquela cidade. A cultura, práticas, costumes e o dia a dia das pessoas que viviam ali eram contrários ao que a bíblia ensina. Além disso, muitas doutrinas contrárias à palavra de Deus eram propagadas naquela cidade.

Somos chamados por Deus para sermos santos e ao mesmo tempo vivermos em “Éfeso”, ou seja, em um local onde os princípios pagãos são praticados. É assim que Paulo chamou aqueles irmãos: "Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus" Efésios 1.1

Independentemente de vivermos em uma sociedade corrompida, isso nunca será desculpa para não sermos santos ou para não sermos fiéis. Os irmãos de Éfeso, apesar de todos os desafios, foram chamados para santidade e à fidelidade em Cristo Jesus e desafiados a viver assim. E também nós somos chamados assim.

Willy Menezes

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